minha história

História de uma Pandemia

Ano passado eu planejei ficar mais em casa em 2020. Eu vinha de um período de grande agitação lutando pelas causas que achei importantes para melhorar a vida de quem tem diabetes, pessoas que enfrentam os mesmos desafios que eu – senão ainda maiores. Então eu dediquei muito tempo e energia para isso, sacrificando o tempo em família e minhas responsabilidades como mãe e dona de casa.

Em janeiro, eu e meu marido viajamos em férias para Miami e New York. Foram 15 dias inesquecíveis quando aproveitamos o calor e o frio nos Estados Unidos. Visitamos lugares incríveis e tivemos um maravilhoso tempo juntos. Naquela época, ouvíamos sobre uma epidemia de um vírus diferente que apareceu na China. “Muito distante”, pensamos nós. Esperávamos que a situação fosse resolvida rapidamente e jamais pensaríamos em tudo o que estamos vivendo hoje.

Voltamos em meados de fevereiro e planejamos visitar a filha do meu marido, Mariana, que em Belo Horizonte num fim de semana de março. Fomos no dia 13 e voltamos no dia 15 de março. Naquela época já tínhamos informações de que o vírus tinha saído da China e que os países começavam a enfrentar casos de infectados e de mortes. Segundo dados do Ministério da Saúde, o primeiro óbito no Brasil foi registrado em 23 de março. A partir da semana que retornamos de Belo Horizonte, os voos começaram a ser cancelados. E a pandemia mudou nossas vidas. A vida de quem tem diabetes também, é claro.

Entre as primeiras informações sobre o efeito do vírus, estava uma mensagem clara sobre uma maior gravidade em pessoas que tinham comorbidades, entre as quais, o diabetes. Toda a comunidade azul ficou assustada. O controle do diabetes se fazia ainda mais urgente e necessário, para que o impacto do vírus pudesse ser minimizado. Como melhorar o controle? A resposta me parecia possível. Meu plano mental era o seguinte:

  • Eu precisava manter a atividade física, mesmo sem sair de casa. Procurei aplicativos com orientações sobre exercícios. Comprei uma bola de pilates e um colchão para os abdominais. Andei de bicicleta com máscara andando pelos quarteirões próximos à minha casa. Subi e desci as escadas do prédio. Me exercitei na cobertura, na varanda, dentro do quarto. Até que as academias voltaram a abrir em outubro e eu retornei aos treinos em novembro.
  • Eu precisava manter uma alimentação saudável. Fazer isso em casa me pareceu muito mais fácil do que na rua. Eu teria o controle de tudo o que entrava. SQN. Por precaução, eu passei a não ir mais ao supermercado. Fiquei a mercê das escolhas do marido, que nem sempre seriam as melhores para controlar o meu diabetes. Confesso que para relaxar nos fins de semana, também passei a consumir mais cerveja do que eu gostaria. Uma válvula de escape provavelmente.
  • Seguir o tratamento, fazendo a monitorização da glicemia e aplicando a insulina. Esta parte eu acho que fiz direito. Além disso, mantive as consultas com os médicos, nutricionista, etc. Fiz exame em domicílio. Examinei os olhos como faço anualmente. Consegui também avançar na terapia da bomba de insulina. Tudo para que a pandemia não afetasse meu controle, para que não mexesse em algo que custei tanto a conquistar.
  • Manter-me informada. Ah…isso eu fiz muito, o tempo todo, participando de lives, cursos online, congressos, workshops, jornadas, eventos etc. Tudo o que eu podia fazer para aprender sobre o diabetes e também sobre a pandemia do novo coronavírus eu fiz durante todo este período da pandemia. Fiz até demais. Ocupei bastante o meu tempo fornecendo informações, produzindo informações e me alimentando de informações. Finalmente…estou numa ressaca (de informações)e venho procurando limpar minha mente do excesso. Procuro ver filmes, escrever, trabalhar, conversar com as pessoas, criar artesanatos, assistir comédia, brincar, rir. Descobri que precisamos manter a saúde mental, apesar deste mundo estar ficando cada vez mais louco.

Entretanto, o efeito da pandemia na minha vida com o diabetes apareceu. Basta ver essa imagem acima que revela meus números de hemoglobina glicada antes e durante a pandemia. A tal da curva ascendente que tanto nos assusta com o crescimento dos casos e de mortos devido ao COVID-19, também aparece no meu gráfico. Como achatar esta curva se também não temos vacina contra o diabetes? Daí criei com um amigo DM o projeto de uma página no facebook para falar sobre as pesquisas em busca da cura do diabetes. Neste cenário em que buscamos soluções para uma vida sem o vírus, também quero uma vida sem o diabetes.

Mas a resposta da ciência para a pandemia do coronavírus pode estar chegando com uma vacina criada em prazo recorde. E quanto à cura do diabetes? Quando chega? Tenho 35 anos convivendo com o diabetes e também quero viver pelo menos uma parte do meu futuro livre desta condição. Como fazer com que o empenho para que as pesquisas contra o diabetes avancem? O que, nós, pacientes, podemos fazer para apressar este processo? O que eu posso fazer, além de me manter saudável até a cura? Deve ter algo que possamos fazer. Alguém tem uma sugestão? Comente aqui e me ajude a descobrir quais caminhos devemos trilhar.

E você? Sentiu o efeito da pandemia na evolução do seu controle do diabetes? Poste aqui seus resultados. Vamos oferecer dados para chamar atenção de cientistas e governantes. Até a próxima!

E por último: depois de meses me protegendo da infecção pelo novo coronavírus, em meados de outubro eu senti os primeiros sintomas de que estaria infectada. Começou como uma gripe com coriza, espirros e tosse. Depois veio uma pontinha de febre e o aumento a tosse. Neste momento, procurei um hospital e fiz o teste PCR, aquele em que enfiam um cotonete pelo nariz para colher o material para o exame. Sobrevivi ao incômodo do teste. Três dias depois veio o resultado: positivo. Fiz o isolamento, tomei os remédios para os sintomas e ainda fiquei uma semana com uma tosse forte. Senti um desconforto para respirar um dia apenas. Não tive perda de olfato ou paladar. Minhas glicemias enlouqueceram com hiperglicemias sem motivo aparente. Precisei administrar uma dose de basal temporária e fui enfrentando dia após dia até que consegui me recuperar. Hoje estou bem. Fiz o teste rápido, após os 14 dias de isolamento e, felizmente, não tinha mais o vírus. Entretanto, também não tinha anticorpos. O que aconteceu? Meu corpo colocou o vírus para fora como? Ainda não encontrei esta resposta. O fato é que posso ser infectada novamente e, por isso, procuro manter as medidas de segurança. Que venham logo a vacina! Todas elas!!!!

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